quarta-feira, 20 de maio de 2015

Discurso De S.E. O Presidente Taur Matan Ruak No 13º Aniversário Da Restauração Da Independência De Timor-Leste

Maliana, 20 de Maio de 2015

PR Taur Matan Ruak. Maliana, 20 Maiu 2015
Excelências.

Povo de Timor-Leste.

Comemoramos em Maliana o 13.º Aniversário da Restauração da Independência. Saúdo o Reverendíssimo Bispo D. Norberto do Amaral e todos os religiosos e religiosas, da Diocese de Maliana e de todo Timor-Leste.

Este ano de 2015 evoca-nos de maneira especial a história da nossa Nação. Este ano comemoramos 500 anos do primeiro contacto com Portugueses.

Esse encontro foi seguido de contactos com missionários. Esses acontecimentos de há cinco séculos ajudaram a escrever a história da nossa terra.

Comemoramos esses primeiros encontros quando Timor-Leste tem a honra de presidir à CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

São duas realidades que simbolizam aspetos da identidade timorense: o Cristianismo e a Língua Portuguesa – língua adotada pela Resistência, porque nos distinguia e que contribuiu para a libertação nacional.

O Cristianismo é uma força inspiradora da espiritualidade dos timorenses. O trabalho da Igreja e dos religiosos deve tornar-se exemplo das qualidades timorenses, ao serviço do bem e das pessoas vulneráveis, em todo o país.

Somos uma nação asiática, Cristã e com fortes ligações a vários países irmãos, de outros continentes.

Além da língua, nós e os irmãos da CPLP partilhamos valores e muita história.

A solidariedade fraternal dos povos da CPLP, durante 24 anos, teve uma enorme importância na luta pela Independência.

Agora, a integração harmoniosa do país na comunidade internacional é também muito importante para consolidar o Estado e desenvolver Timor-Leste.

Como Nação asiática, queremos aprofundar a nossa participação na vida da região. A futura adesão à ASEAN é um passo para este objetivo.

O município de Bobonaro inclui uma região vasta da nossa fronteira internacional.

O povo de Bobonaro conhece a importância da estabilidade e da paz para o comércio e para o desenvolvimento da economia.

A política de amizade e reconciliação entre Timor-Leste e a Indonésia – a cooperação entre os nossos países, e igualmente com a Austrália – são contributos poderosos para a estabilidade, o desenvolvimento e o reforço da economia regional.

Em Abril, encontrei-me com o senhor Presidente Joko Widodo da Indonésia. Eu e ele concordámos em dar imediatamente um impulso renovado à negociação das fronteiras entre Timor-Leste e a Indonésia, especialmente a fronteira marítima.

A fronteira terrestre está definida a 98%. Isso oferece segurança às comunidades dos dois lados e contribui para desenvolver os contactos familiares e as relações comerciais.

A segurança das pessoas e o aumento do comércio são vantajosos para a economia de Maliana e do município de Bobonaro.

Timor-Leste já propôs também à Austrália o início de negociações para definir a fronteira marítima comum.

Continuamos a aguardar resposta à nossa proposta.

Timor-Leste vê o desenvolvimento do país como um processo que deve trazer vantagens para todas partes envolvidas.

O desenvolvimento deve gerar novas oportunidades de comércio e cooperação com regiões vizinhas, de Timor-Leste a Darwin e ao Norte da Austrália e às províncias indonésias próximas.

A maior parte dos empregos diretos gerados pela nossa economia continuam a ser criados em Díli.

O processo de desenvolvimento tem de contribuir rapidamente para promover a criação de emprego noutras zonas do país.

A cooperação tripartida, que desejamos alargar, entre Timor-Leste, Indonésia e Austrália irá estimular o crescimento económico numa região muito vasta, incluindo Oecusse, Ataúro, Bobonaro, Covalima e territórios vizinhos.

Acreditamos na cooperação mutuamente vantajosa, para construir bem-estar para as nossas comunidades e as comunidades das regiões vizinhas.

Este processo mostra-nos a importância das relações internacionais na consolidação do Estado e no desenvolvimento do país.

Hoje condecorei pessoas e organizações internacionais que se destacaram pelo apoio empenhado e confiável à nossa luta.

Alguns não puderam deslocar-se aqui hoje, por razões de saúde.

Reconhecemos 35 amigas e amigos cujas contribuições para a vitória e a Restauração da Independência foram importantes. Vêm de muitos países:

Na Ásia-Pacífico – vêm da Austrália da Indonésia, do Japão, da Nova Zelândia, das Filipinas; de Vanuatu, honramos a memória de um amigo do nosso povo, a título póstumo.

No mundo da Língua Portuguesa, homenageamos ativistas e jornalistas de Portugal e os PALOP, organização dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

Estes países irmãos deram um apoio inabalável à nossa luta, com destaque para Angola e Moçambique, mas incluindo também a Guiné-Bissau, São Tomé e Cabo Verde.

Quero expressar-vos a minha satisfação por agraciar o Reverendíssimo Bispo Emérito de Setúbal, D. Manuel Martins. Ele bateu-se toda a vida pela Justiça, em Setúbal, Portugal e no mundo. O seu apoio e carinho para Timor-Leste estão guardados no meu coração.

No continente americano, reconhecemos a solidariedade e apoio combativo de congressistas, ativistas e organizações da sociedade civil dos Estados Unidos e do Canadá.

A sociedade civil no Canadá, Estados Unidos, e também muitos representantes eleitos pelo povo americano foram influentes e ativos ao longo dos 24 anos de luta.

Envio um abraço emocionado a todos os nossos amigos. Em primeiro lugar, ao Professor Noam Chomsky, pela liderança extraordinária e exemplo inspirador do respeito pelos direitos civis e os Direitos Humanos, nos Estados Unidos e em todo o mundo, há seis décadas, ou mais. O seu apoio a Timor-Leste continua tão inabalável hoje, como foi na denúncia da ocupação.

Na Europa, a Irlanda teve sempre um forte movimento de solidariedade com a Resistência. A solidariedade dos europeus foi forte em outros países também e tem sido reconhecida através de condecorações noutras ocasiões.

Jornalistas corajosos, de Portugal e outros países deram a conhecer ao mundo a Resistência Timorense e a violação dos Direitos Humanos na nossa terra.

A liberdade de imprensa no mundo ajudou a promover a solidariedade de outros povos com a luta dos timorenses!

Envio um abraço ao irmão Max Stahl, a quem desejo melhoras da sua saúde.

Muitos amigos e amigas de Timor-Leste organizaram e lideraram redes de apoio à Resistência nas sociedades civis dos seus países. Ajudaram a recolher apoio financeiro e outro apoio material, e mobilizaram a opinião pública mundial contra a ocupação de Timor.

Acredito ter a compreensão e o apoio de todos ao mencionar especialmente o ativista indonésio Liem Soei Liong, líder histórico da Tapol, organização de defesa dos Direitos Humanos na Indonésia. O Tapol esteve sempre entre as vozes destemidas contra a opressão dos timorenses.

A diplomacia da Resistência e a solidariedade internacional contribuíram para isolar o regime de Suharto e focar a atenção de líderes mundiais em Timor.

Os nossos diplomatas sob a direção nacional da luta ajudaram a impor a visão timorense no modelo do referendo de 1999.

Abraço os irmãos e irmãs da Frente Diplomática que durante 24 anos acreditaram na vitória e não esqueceram o sofrimento do povo dentro do país.

Abraço especialmente o pai da nossa diplomacia, o meu irmão Ramos-Horta.

A sua capacidade tem sido reconhecida pelas Nações Unidas que lhe têm confiado missões de alta responsabilidade e ele continua a honrar o nome de Timor no mundo.

A diplomacia da Resistência amplificou a ação da frente armada e da frente clandestina, aumentado o seu impacto interno e internacional.

Agora, os embaixadores de Timor-Leste e todos os nossos diplomatas têm de desenvolver uma diplomacia proativa, inspirando-se nas lições da Resistência.

A diplomacia timorense tem de mostrar ao mundo a estabilidade do país, os êxitos do nosso povo e as oportunidades de investimento, em projetos mutuamente vantajosos para o desenvolvimento do país e os investidores.

As fronteiras internacionais de Timor-Leste são espaços de entendimento, amizade e cooperação. O nosso país é um parceiro estável e previsível, inspirador de confiança, na região e no mundo.

Irmãos e irmãs.

Sem estabilidade, não há desenvolvimento.

A paz, a segurança de pessoas e bens, a confiança na Justiça e o respeito da lei são indispensáveis para atrair investimento e promover o desenvolvimento.

Se os timorenses não estiverem unidos, outros aproveitam a nossa fraqueza, afetando a soberania nacional.

Temos de estar unidos e reforçar a estabilidade, para implementar a nossa estratégia de desenvolvimento e fintar quem nos quer mal.

No mundo globalizado dos nossos dias, os resultados económicos dependem do desenvolvimento interno e também do êxito na competição internacional.

Por isso Timor-Leste trabalha para tornar a cooperação económica e empresarial um novo eixo da ação da CPLP, não só no atual biénio mas para o futuro. Em certo sentido, as fronteiras de Timor-Leste são mais vastas e estendem-se a outros continentes, onde estão os irmãos da CPLP.

Nenhum país tem êxito sozinho. A confiança e o respeito internacional são importantes para o nosso desenvolvimento.

Durante a luta, o apoio do povo aos combatentes, a credibilidade e o respeito internacional pela Resistência foram construídos, passo a passo:

- Com políticas moderadas e inclusivas, aprovadas pela direção central da luta, nas montanhas;

- E com uma diplomacia diligente e credível, que ajudou o mundo a conhecer-nos e a acreditar nos timorenses.

Agora, a credibilidade e o respeito internacional pelo país continuam a ser construídos, também passo a passo, todos os dias:

- Com políticas moderadas e inclusivas da liderança nacional, para reforçar a estabilidade e promover o crescimento sustentável, para ajudar a melhorar a economia das famílias e reforçar o setor privado nacional.

- E com a intensificação de uma diplomacia sempre credível e diligente, capaz de transmitir a estabilidade em que vivemos e de reforçar a confiança da comunidade internacional em Timor-Leste.

A nossa diplomacia é uma ferramenta que ajuda a implementar as prioridades de desenvolvimento que aprovámos.

O Estado está a realizar grandes investimentos para desenvolver o país.

Alguns resultados são já visíveis. Um deles é a rede elétrica nacional. A eletricidade chega já à maior parte do país. Dentro de algum tempo, irá chegar a todos os sucos e aldeias da nossa terra.

Estamos a investir na construção e melhoria da rede nacional de estradas.

Algumas obras importantes serão realizadas em parceria entre Timor-Leste e instituições da comunidade internacional ou parceiros de desenvolvimento.

Esta solução começou a ser implementada pelos governos anteriores. Desejo que a experiência destas parcerias assegure maior qualidade das obras e maior rapidez na sua implementação.

As parcerias para implementação de infraestruturas enriquecem a experiência e capacidade de realização dos serviços de Obras Públicas e de aquisição de bens e serviços pelo Estado.

Devemos sempre aprender, para podermos fazer mais e melhor.

Neste momento, o Estado está a fazer investimentos vultuosos em dois polos de desenvolvimento em Oe-cusse na Costa Sul.

O objetivo é estimular o aproveitamento das riquezas e do trabalho das comunidades nestas regiões e atrair investidores para desenvolver o setor produtivo e criar mais empregos.

Estes polos devem tornar-se motores do crescimento económico regional para dinamizar não só a economia de Timor-Leste mas também as trocas comerciais com as regiões vizinhas da Austrália e Indonésia, com vantagens para todas as partes envolvidas.

Temos de avançar tão rapidamente quanto for possível e criar mais centros de dinamismo económico noutras regiões.

Só investindo em polos de desenvolvimento podemos aproveitar os recursos da nossa terra e o trabalho dos agricultores. É muito importante planear para proteger e alargar as zonas agrícolas. Não podemos continuar a importar quase tudo o que comemos ou bebemos.

Vamos trabalhar juntos para assegurar o desenvolvimento sustentável de todas as regiões de Timor-Leste e aproveitar bem as riquezas naturais do país.

O Estado tem de aumentar a qualidade dos serviços e reduzir a burocracia.

A maior parte da população vive fora da capital, mas a Administração pública continua, na sua maior parte, concentrada em Díli.

O Estado tem de levar os serviços públicos à população – a todo o país.

A participação e envolvimento dos cidadãos no desenvolvimento nacional têm de tornar-se uma prioridade e um método de trabalho da Administração.

A melhor maneira do Estado ser eficiente a nível local é promover a participação das populações interessadas, corresponsabilizar as comunidades pela implementação dos projetos e prioridades locais.

Elas sabem melhor do que ninguém aquilo de que precisam.

Excelências.

Irmãos e irmãs.

Completam-se hoje 3 anos sobre a data da minha posse como Presidente da República. O país não esteve parado durante este tempo. As condições de vida melhoraram em alguns sucos.

Mas as carências continuam a ser grandes. Temos de trabalhar determinados para melhorar da vida em todas as aldeias e sucos da nossa terra.

Estes anos têm sido de paz e estabilidade.

A estabilidade é possível porque o povo escolheu a paz e tem tido um comportamento responsável perante o presente e o futuro.

Temos um novo governo e um novo primeiro-ministro.

A passagem de maiores responsabilidades da geração de 75 para a geração de Santa Cruz decorreu de forma tranquila e sem sobressaltos.

Esta realidade é positiva e de saudar.

Existe um largo consenso sobre a necessidade de aumentar o rigor e qualidade dos serviços públicos, de reduzir o desperdício e gastar dinheiro do Estado com cuidado e consciência, enfim sobre a necessidade de descentralizar e corrigir a organização dos departamentos quando o seu desempenho não é aceitável.

Os membros do governo têm o dever de serem os primeiros a dar o exemplo. Mas esse dever não é só dos membros do governo. É um dever de todos os cidadãos perante a Nação, incluindo do Presidente da República. A terra de Timor precisa da dedicação de todos nós.

Os trabalhadores, os cidadãos todos, preocupam-se com a sua situação e das famílias – isso é normal, mas não pode ser tudo: temos de pensar também no país.

Para desenvolver e melhorar a vida de todos na nossa terra amada, temos de pensar no interesse do país, não só no interesse individual. Só unidos e com dedicação a Timor podemos alcançar uma vida melhor, num país melhor.

Todos juntos, podemos fazer melhor.

Assim Deus nos ajude e abençoe todos nós.

Sem comentários:

Enviar um comentário