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sábado, 6 de setembro de 2014

Obrigada Timor-Leste por fazeres de mim uma pessoa melhor

Timor-Leste, o sítio onde tudo é inesperado e diferente. Saudades de 6 meses na ilha do Lafaek (crocodilo em tétum)

Regina Azevedo Pinto
A primeira impressão é sempre sáfara, ardilosa e algo ofuscante, mas com o tempo, acaba por se tornar perceptível, legendada e doce. Afinal, Timor-Leste é bonito! Após ter vivido 6 meses na ilha do Lafaek (crocodilo em tétum) os sentimentos convertem-se. Quando se viaja e transferimos o nosso pesado invólucro que, se arrasta pelo chão dos vícios, mimos e hábitos traiçoeiros é necessário criar uma distância deste, sussurrar-lhe calmamente ao ouvido e despi-lo devagar, como se fosse uma criança que decide fazer birra.

Assim, ele vai cedendo, esmorecendo, sucumbindo, as curvas plissadas dissipam-se, perdendo cor e ficando mais macerado. Aí, é altura de o começar a moldar novamente e adaptá-lo, com calma e sensatez. E educá-lo para algo que é novo e desconhecido e explicar-lhe que o que é novo não é necessariamente mau. Com tempo, as birras diminuem, a alma torna-se mais inócua e predisposta. Tempo de iniciar a caminhada com uma mente lenitiva e ávida de experiências, pronta a derrubar a miopia cultural!

Tudo se move, languidamente, com pés de chumbo, bem devagar, devagarinho, com muita calma, os ponteiros fleumáticos do relógio arrastam-se e oscilam paulatinamente. Há tempo para tudo, um tempo bailarino e harmonioso sempre ao som das colunas das microletes românticas com nomes como “Amo-te”, “Saudade” ou “Cristiano Ronaldo”, dos apitos frémitos de saudação persistente dos taxistas e das vozes inquietantes que pregam partidas ao nosso coração com expressões como "pulsa? pulsa? sim card?”.

Timor-Leste, o sítio onde tudo é inesperado e diferente. O sal assemelha-se a açúcar e o açúcar ao sal, quantas vezes me enganei a fazer o arroz, um arroz de tomate doce. A expressão constante nos cafés do “há, mas não tem”, que nos faz sorrir todos os dias.

Os olhares longos e cépticos dos timorenses, desconfiados mas simpáticos. O ar quente e húmido que nos abraça e dificulta a respiração, as constipações devido às alterações climatéricas causadas pelo ar condicionado. Os pastéis maravilhosos da D. Fina na areia branca e a maravilhosa água de côco. A condução a ziguezague que aprendemos a ter devido aos buracos constantes na estrada e o vício que se desenvolve por regatear todos os preços, que saudades!

Aquilo que recebemos das outras culturas é algo que ninguém nos pode retirar; podem-nos tirar tudo, penhorar sonhos, hipotecar sentimentos, mas aquilo que vivemos e sentimos é nosso e isso está guardado num cofre à prova de estereótipos e inveja. Já faz parte de nós, do nosso ADN, nunca voltamos iguais!

Obrigada Timor-Leste por fazeres de mim uma pessoa melhor. Por me reiterares a ideia de que estamos em constante mutação espiritual, por me ajudares a encontrar 10% de mim própria, por me ensinares que posso comer arroz e frango com uma colher. Que posso viver com menos daquilo que eu pensava, que posso tomar banho de água fria e não me queixar, por me fazeres deixares de gostar de expresso e apreciar café Timor, por me tornares mais benevolente, pela companhia garrida e deambulante, por me fazeres crer que a vida é aquilo que nós queremos que seja e, por fim, por teres aumentado a minha inteligência emocional!

Se tudo isto fosse quantificável, teria de pagar um excesso de peso colossal no aeroporto internacional presidente Nicolau Lobato. O que me vale é que as balanças do aeroporto ainda só detectam a quantidade e não a qualidade!

Por Regina Azevedo Pinto
http://p3.publico.pt/node/9591


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